Muito estudo

Aproveito o tempo menos ameno para estudar com afinco. Ao meu olhar já treinado há pequenas piadas e enigmas na literatura científica que não escapam. Estou convencida que estas fracções a que me refiro foram colocadas propositadamente entre parágrafos de um total aborrecimento como meio de premiar os estudantes mais dedicados. Que outro propósito teriam passagens como esta? – passo a citar palavra por palavra:

“uma erva medicinal chinesa usada tradicionalmente para curar etilistas contém daidzin, um inibidor específico da aldeído desidrogenase. Em hamsters (que consomem álcool espontaneamente em quantidades que derrotariam até o mais durão dos bípedes consumidores de álcool, enquanto permanecem, até onde se pode dizer de um hamster, completamente sóbrios), o daidzin inibe acentuadamente o consumo de álcool.”
In Farmacologia; Rang and Dale; Elsevier

Assim, da sessão de estudo de ontem retive 2 ensinamentos:
- se alguma vez arranjar um hamster, devo ter cuidado com a garrafeira cá de casa
- nunca mas nunca hei de desafiar o bicho para irmos beber um copo

No caso de não ser uma brincadeira, estou preparada para a escolha múltipla sobre este tema!

a culpa é da marquise

A tua casa é a mais bonita que conheço. É a casa dos meus sonhos. O prédio é velho e as escadas, por mais que tentes, nunca vão cheirar a limpeza. A rua é triste, fica em Algés – que precisa muito de vigor. Mas a vista é de gritos! Não há postal que contenha tanta luz, tanto Tejo, tanta Lisboa, ai são as pontes e ainda mais o mar… 4 metros de comprimento por meio metro de altura de alta definição do que é bom. Tivesse eu maior acuidade visual só para olhar pela janela e apreciar em pleno.

Certa noite, quando ainda dormia ai, acordei com um barulho infernal de explosivos. Fogo de artifício, para os lados da Torre de Belém, que fiquei a ver sozinha, incrédula. Foi estupendo.

Em tua casa quando é Inverno gela-se, e por isso tens reumático, e no Verão está demasiado calor para usar calças. Só que houve uma noite no Brasil em que senti uma saudade esmagadora da Lisboa que a tua casa me mostra. E não houve praia que me consolasse.

Vou querer morar ainda muitos anos nesse apartamento privilegiado, empoleirada na janela da marquise ideal.

Da noite de medicina

A noite de medicina foi uma autêntica maratona: 5 horas com direito a intervalo! Só faltava o Inem à porta. O bom Inem… deveria estar sempre próximo de qualquer estudante de medicina, nos tantos perigos que espreitam quer dias de formação, quer noites de celebração.

Nesta quarta passada, houve momentos bons e momentos menos bons. Intercalados por momentos péssimos com colegas de cuecas a dançar o cabaret. Intrigante porque as mulheres predominam nos cursos de medicina, envergonhando a velha guarda machista, e depois, sempre que há um tempinho morto, é vê-las todas felizes aos pulos em roupas interiores e a provocar os senhores das primeiras filas. Dominadas, desistentes. Não me venham com histórias, foi lamentável. Não me convidarem e dançarem tão mal.

Fica um excerto de um êxito da noite. Cada dia sofro mais com a transição da ditadura do porteiro para a fria portagem no estacionamento do HSM. Além disso, pertenço ao triste grupo de alunos do 3ºano e todos nos lamentam a sorte, até estes que já vão no 5º e percebem de martírio..

Meninas, a ele!!!
O amor deixa-me mais bem disposta.

Chuva

Há dias em que não apetece ser nada. Não ser a filha de, que nasceu em, no ano xis, que estuda tal, amiga de, que faz aquilo, que gosta de, que é assim e tal e etc. Não apetece ser nada, não apetece ser ninguém. Talvez seja da chuva. Eu hoje gostava de me diluir nela e ir por aí, lavar as ruas, as estradas, só escorrer. Entardeci bloqueada em modo menor. Já não há nada a fazer.

Vou...

Ao evento mais significativo do ano para o estudante de medicina lisboeta.
Não, não é o assalto aos cemitérios para petição de ossadas. É a esplendorosa Noite da Medicina!Que nos valha Santa Maria, que o Coliseu vai abaixo.

Fui, fui...

Ao concerto dos Pontos Negros no MusicBox. Com canções cativantes e uma actuação e peras, o serão valeu a pena. Por detrás da aura desalinhada, uma banda às direitas.

Fui...

Ao simpósio sobre o HPV, o colo do útero e a vulva. Mesmo a um sábado às 9:30, um coffe break grátis atrai quase tantos estudantes como os arraiais do caloiro. Só comi uma miniatura de bolo mas ganhei uma mala. Com o país em crise, está aberta a caça aos brindes. E as palestras foram boas.

A minha primeira aula de Introdução à Clínica. Recebi um email na véspera com um aviso implacável: obrigatório o uso de bata e estetoscópio. Que marco histórico, neste longo caminho de aprendizagem exclusivamente teórica. Para quando o bisturi? Mal posso esperar para ver sangue.

Flor de estufa

Sou uma flor de estufa, provavelmente uma imunodeficiente. O “ligeiro resfriado” adensou-se e estragou-me os planos para a semana toda… Já deve ser a quinta vez este ano. É fixe faltar porque me apetece mas não gosto de faltar porque sou obrigada. Por causa de todo o desconforto, o frio, o calor, os espirros incontroláveis – que me fazem andar com um rolo de papel higiénico atrás pela casa – a dor de cabeça, acordar quase asfixiada em secreções. De manhã chego ao ponto de desejar a minha mãezinha à cabeceira. Se isto for gripe estou mesmo tramada.

O fim-de-semana prolonga-se graças a um ligeiro resfriado. Potenciado pelos malditos ares-condicionados (hei-de dedicar uma reflexão a esses pérfidos electrodomésticos que todo o povo aprova). Mas, vá lá, é perfeito para ficar em casa sem fazer nada. Um verbo, uma arte que cada um explora à sua medida e imaginação. Hoje estou numa de ouvir a banda sonora do mamma mia (acrescento que estou com alguma febre...) e descobrir pequenos tesouros nas revistas das semanas passadas e páginas da web. Como este:



"They're not pets, Susan."






http://little-people.blogspot.com/

Anúncio: precisam-se

Ando nas nuvens com a “Cavalleria Rusticana” de Mascagni. A história é a tragédia do costume, de faca e alguidar. Mas tem excertos belíssimos. E como o que é bom é para partilhar, anuncio aqui que se precisam de vozes/figurantes para esta ópera. Basta boa vontade para cantar e alguma dedicação, não são necessários muitos conhecimentos musicais, e muito menos Carreras e Boccelis. Com 3 apresentações previstas para meados de Junho, ensaios às 3as ao fim da tarde, em Linda-a-Velha. Quem quiser saber mais, contacte-me. A experiência é enriquecedora e não é todos os dias que se têm estas oportunidades….